segunda-feira, 11 de outubro de 2010

À Eternidade do que não muda...


Citando aquele que para mim é e sempre será um Grande Mestre, em tudo o que a vida me possa mostrar:

"Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. (...) As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. (...) Eu declaro aqui a estas fundas e agrestes rugas de Portugal que nunca vi nada mais puro, mais gracioso, mais belo, do que um tufo de relva que fui encontrar um dia no alto das penedias da Calcedónia, no Gerez."

Miguel Torga, in "Diário (1942)"

Sem querer qualquer tipo de comparação com este grande Mestre (eu nunca a mereci...), descobri a melhor descrição para tudo aquilo que sinto, e sinto há muito tempo...
Desola-me a hipocrisia humana, principalmente a que começa por mim e que não consigo combater, seja por medo, covardia ou simplesmente por não querer fazer sofrer ninguém... Nem mesmo aqueles que não gostam de mim ou de quem não gosto tanto...
Só os penedos da Penha e o Mondego sabem o que sinto... Só a eles eu não sou capaz de esconder as verdades... Apenas eles conseguem ler a minha Alma, mesmo no choro apagado que surge do fundo do meu ser, sozinho para ninguém ver.
Mas só eles merecem a minha Lealdade... Só eles nunca me trairam com a sua eterna forma e vida infinita...
Da minha forma elementar e mineral, eu olho para ti meu Amor, e repudio mais uma vez o sentimento que não existe, que me negas com a tua rigidez...
Mantenho a sensação de ardor que queima as entranhas e me consome por dentro...
A minha tristeza será para sempre, tal como a minha solidão...

2 comentários:

  1. "sózinho no meio da multidão"...no meio de um mundo de gente...
    Como eu te percebo e me identifico com o que escreves...às vezes,só às vezes...
    bjinhu
    Rita V.

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  2. "Haverá algo mais verdadeiro do que ser pessoa entre a multidão?" ...F.P.

    ...apenas isto...

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