segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Desapareceu o sentimento

A sensação que me prendia a ti já não existe… Apenas a ressaca de uma ligação que nunca existiu… A sensação de impotência, desmaiado no teu sorriso, no teu olhar
Da sensação vou sentir falta. Mas só da sensação… Os Sentimentos não existem, são confundidos com mediadores químicos que teimam em existir e controlar o nosso comportamento.
Vou sentir falta do que nunca te disse e do que tu nunca me disseste; da agressão emocional constante, mas que teima em me fazer viver… Viver numa emoção que nunca existiu e que não passa sequer da imaginação e da amálgama fisiológica para a realidade… Uma realidade relativa que teima em marcar a existência…
Vou sentir falta do teu olhar. Do medo que ele transmitia… Desse medo que destruiu o nosso Futuro, sem sequer sabermos. Desse teu medo que se misturou com as palavras que nunca disseste, e com as atitudes que nunca assumiste. Atitudes e acções que sem querer deixaste passar para além do teu consciente, teimando sempre na racionalidade do que vês e do que sabes ao certo.
Abrimos mão da vida, apenas pela razão… Por essa razão… Apenas por essa razão que nos faz sofrer e nos afasta completamente. Cada vez mais… Por essa razão que nos faz ter medo de estarmos juntos, de nos tocarmos … Que nos faz ter medo da sensação…
A ti eu só digo: até nunca mais! Fazes com que morra aos poucos, tiras-me a vida para conseguires viver, para conseguires lidar com a contrariedade daquilo que mais profundamente desejas…

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

À Eternidade do que não muda...


Citando aquele que para mim é e sempre será um Grande Mestre, em tudo o que a vida me possa mostrar:

"Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. (...) As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. (...) Eu declaro aqui a estas fundas e agrestes rugas de Portugal que nunca vi nada mais puro, mais gracioso, mais belo, do que um tufo de relva que fui encontrar um dia no alto das penedias da Calcedónia, no Gerez."

Miguel Torga, in "Diário (1942)"

Sem querer qualquer tipo de comparação com este grande Mestre (eu nunca a mereci...), descobri a melhor descrição para tudo aquilo que sinto, e sinto há muito tempo...
Desola-me a hipocrisia humana, principalmente a que começa por mim e que não consigo combater, seja por medo, covardia ou simplesmente por não querer fazer sofrer ninguém... Nem mesmo aqueles que não gostam de mim ou de quem não gosto tanto...
Só os penedos da Penha e o Mondego sabem o que sinto... Só a eles eu não sou capaz de esconder as verdades... Apenas eles conseguem ler a minha Alma, mesmo no choro apagado que surge do fundo do meu ser, sozinho para ninguém ver.
Mas só eles merecem a minha Lealdade... Só eles nunca me trairam com a sua eterna forma e vida infinita...
Da minha forma elementar e mineral, eu olho para ti meu Amor, e repudio mais uma vez o sentimento que não existe, que me negas com a tua rigidez...
Mantenho a sensação de ardor que queima as entranhas e me consome por dentro...
A minha tristeza será para sempre, tal como a minha solidão...