segunda-feira, 31 de maio de 2010

A vida sem sentir

"Já imaginaste a vida sem sentir? Nem alegrias, nem tristezas! Não haveria motivação, porque não haveria a necessidade de sentir prazer, felicidade... Não daríamos valor a nada, porque não haveria distinção entre o bom e o mau. Achas que fazia algum sentido?"
A Vida assim faria todo o sentido... Seria a plena Liberdade, a Verdadeira Anarquia, sem regras mas sem atropelos.
Nós não nos apercebemos mas o Sentimento atrapalha a nossa liberdade, traz o medo, e castra a nossa imaginação, limitando assim a nossa Evolução, retirando a motivação necessária.
O sentimento atrapalha... Foi uma das coisas que Deus nos deu como recompensa, mas que não nos ajudou a compreender ou controlar, servindo assim como limite do ser.
A minha motivação de facto não seria o prazer ou a felicidade... Isso são meras sensações que tentamos elevar ao grau de sentimento... Seria a certeza da realização do que me iria propor a fazer.
Reparem: os sentimentos impedem a acção... Não digo isto porque vou ofender alguém e vou-me sentir mal (mesmo que esse alguém mereça). Não fazer o que me apetece porque me vou sentir mal se alguém souber... Esta fórmula não vai ser libertada porque alguém se vai sentir atacado... Não me vou juntar aquele amigo, porque alguém vai ficar com ciúmes...
Notem mais: o sentir e o sentimento não impedem apenas a nossa vida, impedem a Ciência e levam ao conflito...
O nosso mal é procurar a sensação e chamar-lhe sentimento... A sensação é breve, mas o sentimento poderá perdurar...

terça-feira, 25 de maio de 2010

O sentir

Hoje escrevo sobre o sentimento.
Escrevo sobre o acto desprezível de sentir eternamente, nunca alcançando a sensação de plenitude ou cumprimento, ao atingir o que tentamos alcançar ou o que tentamos sentir.
Tento escrever exprimindo a revolta do sentir, na confusão do sentimento de quem ama e não pode amar, de quem sente e não pode sentir.
Escrevo pedindo ajuda ao Deus do sentimento. Pedindo ajuda ao sentir para não sentir... Escrevo sem saber o que sinto ao escrever, amaldiçoando a mente que sente.
As palavras soltam-se nestas teclas buscando a razão. Buscando o sentimento que não doi e que traz a verdade do sentir.
Queria mais uma vez estar ausente desta prisão eterna do sentir e de tudo o que o sentimento traz consigo neste turbilhão de sensações e razões que me derrubam o ser e a mente, que me atrapalham e arrastam para um destino que não conheço e me vai destruir.
Peço ajuda a quem se mostra, mas ninguém vê o que sinto na minha revolta. Ninguém vê a náusea deste Movimento Perpétuo que não se mexe mas queima e faz sofrer. Ninguém me pode ajudar...

sábado, 1 de maio de 2010

Altruísmo

Estamos em Dezembro, e da minha janela vejo os cumes nevados dos montes da minha Serra. A cor do granito já desapareceu há algum tempo...
Olho para o que sou e para o que fui... Estou sozinho no fim da minha vida. Mas não me sinto só...
Toquei algumas pessoas pela minha vida fora. Tive paixões, amores e aventuras. Mas nunca me prendi. Nunca me conseguiram prender!
Lembro hoje uma conversa com uma amiga... Já lá vão tantos anos desde esse dia em que ela me fez sorrir quando me apetecia chorar. Ela falou-me de Altruísmo, melhor, ela mostrou-me o significado de Altruísmo.
Lembro-me agora porque estou só. Ela mostrou-me que altruísmo tinha muitas vezes a ver com o sofrimento. Fazer sofrer alguém para que não sofressem mais no Futuro, estando convicto que seria a melhor decisão...
Ela mostrou-me mas eu não quis ver.
Lembro-me agora porque o meu coração está velho e frio como as pedras que rodeiam a minha casa. Mas mesmo assim ás vezes brilha, tal como esses penedos que ao longe mostram o seu esplendor sob o Sol no Inverno.
Ao longe as árvores vestem um véu de gelo branco, e noto o contraste com o manto negro que cobre o meu coração. Desde novo que o meu coração veste preto, e nunca ninguém conseguiu dar-lhe outra cor. Nunca ninguém esteve suficientemente perto durante o tempo suficiente.
Agora que o fim está perto, recosto-me na minha cadeira e falo com o Anjo Negro, o Anjo da cor do meu coração:
- Não tenho medo de ti... Sabes que te conheço bem, já olhei muitas vezes os teus olhos vazios, e muitas vezes lutei contigo. Mas desta vez não vou lutar.
- Não vais lutar!?
- Não. Já não tenho nada porque lutar.
- Porquê? Não lutas por aqueles que estão à tua volta, aqueles que vão ter saudades tuas?
- Não. As saudades passam, e eu só vou ter saudades da minha Cidade e da minha Serra... Ninguém mais me vem visitar ou ouvir.
- Está na hora... A Viagem é longa...