sábado, 1 de maio de 2010

Altruísmo

Estamos em Dezembro, e da minha janela vejo os cumes nevados dos montes da minha Serra. A cor do granito já desapareceu há algum tempo...
Olho para o que sou e para o que fui... Estou sozinho no fim da minha vida. Mas não me sinto só...
Toquei algumas pessoas pela minha vida fora. Tive paixões, amores e aventuras. Mas nunca me prendi. Nunca me conseguiram prender!
Lembro hoje uma conversa com uma amiga... Já lá vão tantos anos desde esse dia em que ela me fez sorrir quando me apetecia chorar. Ela falou-me de Altruísmo, melhor, ela mostrou-me o significado de Altruísmo.
Lembro-me agora porque estou só. Ela mostrou-me que altruísmo tinha muitas vezes a ver com o sofrimento. Fazer sofrer alguém para que não sofressem mais no Futuro, estando convicto que seria a melhor decisão...
Ela mostrou-me mas eu não quis ver.
Lembro-me agora porque o meu coração está velho e frio como as pedras que rodeiam a minha casa. Mas mesmo assim ás vezes brilha, tal como esses penedos que ao longe mostram o seu esplendor sob o Sol no Inverno.
Ao longe as árvores vestem um véu de gelo branco, e noto o contraste com o manto negro que cobre o meu coração. Desde novo que o meu coração veste preto, e nunca ninguém conseguiu dar-lhe outra cor. Nunca ninguém esteve suficientemente perto durante o tempo suficiente.
Agora que o fim está perto, recosto-me na minha cadeira e falo com o Anjo Negro, o Anjo da cor do meu coração:
- Não tenho medo de ti... Sabes que te conheço bem, já olhei muitas vezes os teus olhos vazios, e muitas vezes lutei contigo. Mas desta vez não vou lutar.
- Não vais lutar!?
- Não. Já não tenho nada porque lutar.
- Porquê? Não lutas por aqueles que estão à tua volta, aqueles que vão ter saudades tuas?
- Não. As saudades passam, e eu só vou ter saudades da minha Cidade e da minha Serra... Ninguém mais me vem visitar ou ouvir.
- Está na hora... A Viagem é longa...

2 comentários:

  1. Meu caro amigo:
    O altruísmo é somente mais uma das tuas qualidades... E o teu sofrimento, apesar de inglório, deve-se unicamente ao teu sentimento de impotência perante o impossível. Continua sempre a exceder-te a ti próprio... Há quem o reconheça sempre...

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