sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Loucuras

Tudo não passa de raiva! Raiva reprimida por aquilo que chamam amor... Por tudo aquilo que nos prende e impede de viver a nossa liberdade!
Noite dentro sem dormir, desejando não sentir... Torno o que sinto em raiva, e mais uma vez desejo a frieza e a inocuidade do não sentir...
Sinto a Raiva formar-se... Afinal o amor e o ódio andam sempre juntos e movem sempre os mesmos sinais e sintomas... E sou incapaz de lutar mais...
A minha Raiva dura pouco... Estou cansado e só me apetece fugir. Não tenho força para ter Raiva... Sinto-me desaparecer aos poucos. Sinto-me morrer por dentro, sem que alguém alguma vez sonhe o que me faz sofrer, o que me faz estar preso na minha liberdade.
A sensação de revolta mantém-se. Mas a voz está calada... Cada vez mais calada...
Choro sem razão e sem vontade, mas choro... Choro porque choro, porque não consigo falar. Nem sequer consigo arranjar, formar ou articular palavras para conseguir falar...
Não tenho força... Não me consigo mexer...
Quero dormir... Dormir muito... Dormir eternamente...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Uma Vida - continuação

Se tu soubesses a dor que sinto por não te beijar, por te ver e não poder agarrar...
Cruelmente dilaceras o meu peito e sacas o meu coração ainda a bater. Brincas com ele antes de o deitares no foço profundo que é o esquecimento.
Não digas que não sabes o que sinto, ou a sensação do que vivo... Tu já por lá passaste... Falo na sensação porque ela motiva a memória quando o sentimento se perde ou se desfaz no tempo e no viver, ou quando apenas se torna numa sombra do que já foi.
Contigo nunca falarei de sentimento...
Contigo nunca falarei de pertença, mas sim de abandono. O abandono de quem mata uma preza e a deixa no mato para os lobos comerem. Ficas a ver e brincas, e gozas com o meu sentimento de cima desse teu pedestal inalcançável...
Contigo nunca falarei de paixão, mas falarei sempre de Fogo. De quem está no meio das chamas numa morte lenta e cruel... Mas sem nunca sentir calor, porque os teus olhos frios até isso tiram de mim...
Afinal o que queres? O que pretendes de mim? Que seja submisso, que mude, que morra? Da morte não tenho medo. O que me prende é apenas carne, porque a Alma já tu levaste e consumiste.
Pensava que da miséria da existência Humana tu te destacavas. A tua simples complexidade, o teu sorriso... Mas afinal és igual. Não passas de um predador oportunista, que escolhe a sua vítima na multidão, e cuidadosamente brinca até à exaustão...

sábado, 14 de agosto de 2010

Uma vida

Procuro ansiosamente os teus olhos na multidão que me cerca. Na multidão que me envolve e me faz sentir sozinho. Mas desvias o olhar... Não me dás a luz que me faz viver, que me faz sorrir e acreditar que um dia tudo pode ser melhor.
És cruel no alto do pedestal em que estás... não pela santidade, mas por todos os que te rodeiam e tentam beber em ti a vida e a energia que irradias sem querer....
Os meus olhos encontram os teus, e tu fazes questão de não disfarçar o que pensas... apenas o que sentes; e mostras agora o olhar vazio de desdém de quem lê o outro e não quer saber. "Não me interessa... Não altera em nada o que sou!...".
O teu olhar parece gelo. Já não é o calor que um dia senti, que um dia quis só para mim. Já não é o olhar onde tantas vezes me perdi, onde vi mundos novos onde tudo tinha sentido. Há então quem diga que nasceste num Mundo, mas eu acredito que o Mundo existe por ti e para ti. E mesmo assim na tua altivez continuas como se nada fosse. Continuas a deixar mágoa e destroços de quem um dia já foi gente.
Falaste um dia em mudança, mas esqueceste a compreensão... E esqueceste que nem todos conseguem chegar tão alto no teu pedestal impossível de alcançar...
A dor existe e tu não vês. A Razão volta e sobrepõe-se à existência... À fraca existência de uma vida que se quer sem sentimento...